CONTENÇÃO!!! CONTENÇAO!!!
Ai, último dia. Ao mesmo tempo em que não vemos a hora do dia acabar para poder sentir aquela sensação gostosa de dever cumprido, o medo de que tudo aquilo vá embora e não volte mais também toma conta. É um sentimento bem estranho e só entende que vivencia. Quando decidimos entrar no projeto de um filme, decidimos por uma entrega total. Durante todo o processo de pré-produção e principalmente no período de filmagens, ficamos totalmente mergulhados naquilo, como se estivéssemos temporariamente imersos num universo paralelo. Uma delícia, de fato.
O dia hoje começou bem cedo. 7 horas da manhã saí de casa e, cheia de sacolas, peguei o primeiro ônibus 49 que avistei. Nele estavam também o Denis e Fernando. Eu me sentia uma própria pata vestida a la brechó e me animou o ‘estilo anos 70’ que o Denis atribuiu ao meu vestido comprido com all star e óculos gigantescos que ao mesmo tempo que escondiam as marcas da minha doença, me davam também um pouco de conforto. Enfim, chegamos à locação exatamente às 7h30, acreditando sermos os primeiros. No entanto, não só a Dani já estava lá como grande parte da equipe, que se organizava no nosso apoio, a Academia de dança logo ao lado da locação.
Eu ainda não me sentia muito bem, sentia dores e umas tonturas de vez em quando, mas não queria demonstrar fraqueza ou descaso com aquilo tudo, além do mais, a energia era boa e dava pra sentir que aquele dia seria diferente; seria bom; seria o último.
A direção de arte, hoje, trabalhou mais do que em qualquer outro dia. Na minha conversa com a Bia no dia anterior, comentei que seria um dia bastante tranqüilo para nós duas. Mas eu estava totalmente enganada: puxamos caixas, arrastamos mesas, ajeitamos vitrine, esticamos pano antireflexo... Enfim, tudo dentro de nossas funções e um pouco mais na assistência de set, como é de costume. O Marcelo, dono da papelaria Lápis e Papel, onde filmamos, de início parecia um pouco resistente a mudanças e alterações em sua loja, e eu particularmente fiquei receosa de chateá-lo com minhas ‘artes’. Mas a verdade é que, com o tempo, e talvez por ver o empenho do pessoal todo – que desde o começo trabalhou super bem em equipe – Marcelo se tornou uma espécie de assistente, seja na arte, na fotografia, na continuidade, se divertindo muito, e o mais interessante, certamente colaborando com todo o processo. Era nítido que ele, sua esposa e seu funcionário estavam adorando o nosso ‘espetáculo’.
As coisas andaram muitas vezes do avesso nessa produção. O primeiro de tudo que posso citar é o fato de sempre termos a nítida certeza de que planos detalhes, sem som e sem movimentos de câmera sempre demoram infinitamente mais do que planos seqüência com steady. Sério. Era o maior desespero do Fernando, planos-detalhe-sem-som. O plano de oito tomadas também deveria entrar para o diário, ou aquele plano de num sei quantas tomadas em que o melhor de todos foi o que apareceu a bunda da Nosara. Eu disse: bundas avulsas estão sempre por aí, mas o argumento de que a bunda da Nosara não era uma bunda avulsa e sim uma bunda de figurante que já tinha aparecido, me convenceu bem a seguir para uma próxima tomada.
O dia de hoje foi de certa maneira ajeitado nas últimas horas. Ator novo no set: Heder Braga. A locação foi modificada algumas muitas vezes durante todo o processo. Uma possível papelaria de um senhor bastante grosseiro no centro, uma livraria sem estilo de um senhor bastante simpático, um shopping de informática de um outro senhor bastante solícito, até conhecermos Marcelo e sua bela papelaria. Era redundante dizer que o melhor investimento dele era com os próprios 12 ou 13 da equipe, futuros compradores. As meninas, principalmente, babavam sobre os caderninhos bonitos e os mimos daquela infância que parece nunca terminar pra gente.
O clima foi bastante descontraído durante todo o dia e eu finalmente me senti parte daquela equipe. Depois de alguns dias me sentindo sempre um pouco de fora, fosse pelo fato de todos já se conhecerem de antes do filme, fosse pelo fato da arte sempre trabalhar um pouco separada, antes de todos os outros, no último de filmagem eu pude fazer parte desse grupo e ver melhor a qualidade de cada um que estava ali. Nesse final pude conhecer melhor Mariane, Tássia e Luciana e dizer que em tantos aspectos as vejo diferente, melhores, bem melhores, como pessoas e profissionais. Pudemos no final dividir grandes risadas; Elizabeth com quem só pude trabalhar de fato por um dia, mas que posso dizer tem o melhor abraço de todos (coisa de paraense?); a Dani louca e desesperada com os detalhes dos quais ela jamais abre mão, dirigindo lindamente seus atores, conseguindo dinheiros e dinheiros com simples telefonemas e sua metralhadora doida de palavras; o Edvaldo suave em seus novos planos, querendo sempre aprimorar e aprender, captando as piadas sujas dentre os jargões cinematográficos ou simples expressões do dia-a-dia; Os meninos, Denis e Fernando, que aparecem pouco e sempre fazem bonito. O Denis com seu repentino momento Xuxa, pedindo pra todo mundo manter o alto astral (lembrei do princesa-xuxa-contra-o-baixo-astral-o-filme) e o Fernando esbravejando que qualidade é tarefa de diretor de fotografia, platô quer mesmo é agilidade; a Ana quietinha, alimentando todo mundo, uma mãe atrás das câmeras (sempre atrás das câmeras); Bia puxando caixa, lavando banheiro, figurando, esticando pano, topando todas as roubadas que o resto da equipe sempre separa para as ‘meninas da arte’.
Final de filmagens, fomos todos pro Vestibular do Chopp comer pizza e fazer planos pros próximos filmes. Certamente haverá novas chances pra esses 12 meliantes se juntarem e produzirem mais um outro algo de tanto valor como será o nosso ‘Cleptomaníacos Anônimos’.
Vejo vocês na edição e finalização!
domingo, 25 de outubro de 2009
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